quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Confira aqui as mudanças do novo sistema Android, o Ice Cream Sandwich

A versão 4.0 do sistema operacional móvel Android, conhecido pelo codinome Ice Cream Sandwich, foi anunciada oficialmente pela Google em um evento realizado nesta quinta-feira (19), em Hong Kong. Com o lançamento, o Android entra em uma nova fase de integração em dispositivos móveis, oferecendo um sistema remodelado e cada vez mais ajustado para os novos "super smartphones" e tablets, dos quais os fabricantes prometem lançar no mercado nos próximos meses.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)Home screen do Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)
Android Ice Cream Sandwich foi apresentado sob o hardware do novo Galaxy Nexus
O evento começou com J. K. Shin, presidente de operações da Samsung, falando da importância do Android, que hoje é o sistema operacional móvel número um do mundo; e de como a Samsung está envolvido nesse projeto. Logo depois apresentaram o primeiro smartphone com o sistema Ice Cream Sandwich do mercado, em uma versão que promete uma ótima experiência na nuvem, compatibilidade com a tecnologia LTE (4G) e melhores recursos de navegação nos tablets e nos smartphones.
Andy Rubin então subiu ao palco para falar especificamente do Android 4.0 Ice Cream Sandwich, enfatizando as propriedades e benefícios da nuvem na nova versão - uma vez que os novos smartphones trabalham o tempo todo conectados, e com a nova versão do Android isso não vai ser diferente. Com isso, o novo smartphone da empresa, o Galaxy Nexus, foi oficialmente apresentado aos jornalistas.
Depois da apresentação do novo Galaxy Nexus, o Ice Cream Sandwich recebeu a merecida atenção nos detalhes. Matias Duarte, o homem responsável pelo projeto Honeycomb, subiu ao palco e detalhou o quanto o sistema evoluiu até agora e em tão pouco tempo. Para ele, a "alma" do Android é representar aquilo que as pessoas são, e o que elas esperam de um sistema. "Hoje, as pessoas gostam do Android, querem o Android, e sabem como ele é poderoso. Mas, ainda assim, é difícil definir o que é o Android em sua essência", disse.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)Widgets e atalhos na home screen do Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)
Design e usabilidade do Android foram repensados no novo Ice Cream Sandwich
Duarte então definiu o novo projeto em três princípios básicos. O primeiro deles é que o Android deveria encantar com o seu design. No novo sistema, eles atualizaram as funções de papel de parede e as animações para bloqueio de tela. Os botões virtuais são mais atraentes, e o sistema se tornou mais simples e rápido no seu acesso pelo toque na tela. Os gestos para navegação nas telas de aplicativos se tornaram mínimos, sendo otimizados para adição de widgets, com uma navegação bem mais suave e prática.
Nas telas de exibição de aplicativos, a animação foi alterada. Quando você desliza de uma página para a outra (na tela de aplicativos instalados), um efeito de sobreposição passa a página de trás para a frente. Outra modificação feita é a organização de atalhos através de grupos, que podem ser combinados ao gosto do usuário. A interface lembra - de longe - o sistema de pastas do iOS, mas há uma diferença: se você desejar, pode deixar um ícone na barra de tarefas para representar o grupo recém criado.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)No Ice Cream Sandwich, não é necessário mais operar através dos botões físicos (Foto: Reprodução/Engadget)
O segundo conceito é o poder que o usuário tem no Android. O sistema possui uma nova interface para a lista de atividades no aparelho, agrupando tudo em forma de lista, como mensagens recebidas e enviadas, chamadas, dentre outros recursos. Em função, até lembra o Timescape, presente nos smartphones da Sony Ericsson.
O teclado também foi remodelado, e agora oferece múltiplas sugestões de palavras e novos modos de edição, e a interface, claro, também foi ligeiramente modificada. O aplicativo de envio de mensagens está mais simples, com um ar minimalista. Além disso, você pode redigir textos por meio do comando de voz, "ditando" toda a mensagem a ser enviada, incluindo pontuações e até comandos para smile faces.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)O Face Unlock desbloqueia o smartphone ao reconhecer seu dono pela câmera de videochamadas (Foto: Reprodução/Engadget)
Novos recursos do Android Ice Cream Sandwich mostram que evolução não foi apenas estética
O terceiro conceito apresentado foi o da segurança. O Ice Cream Sandwich ganhou um novo recurso chamado Face Unlock, que só desbloqueia o aparelho quando o seu proprietário estiver diante da câmera frontal. Curiosamente a função não funcionou com perfeição na demonstração do palco, mas vamos deixar isso de lado (por enquanto).
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)O recurso não funcionou como esperado durante a apresentação do Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)
A seguir, foi apresentado o novo navegador de internet do sistema, que agora apresenta uma experiência muito próxima a dos navegadores de desktops. Dentre as novidades, os favoritos guardados no Android agora ficam sincronizados com os favoritos do desktop - os registros serão feitos por meio de sua conta Google.
O Gmail também foi remodelado, e conta agora com duas linhas de preview, oferecendo os comandos mais usados. Enviar respostas a múltiplos contatos ficou mais simples, e agora dá para navegar entre mensagens selecionadas. Nas buscas, ao digitar as primeiras letras do e-mail ele rapidamente exibirá os contatos associados à sequência dos nomes. Dentre outros vários recursos, merece atenção também as buscas de e-mails no modo offline.
O calendário também ganhou algumas mudanças, agora com um visual muito mais limpo e prático. Se você quiser ver os detalhes de suas atividades, é só você dar zoom in com o movimento de pinça na tela.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)Nova tela de notificações do Android Ice Cream Sandwich reúne redes sociais com recursos do telefone, como mensagens (Foto: Reprodução/Engadget)
Controle total dos recursos e aplicativos rodando no seu smartphone
O Ice Cream Sandwich oferece um controle mais prático dos recursos do smartphone, dando ao usuário uma ferramenta completa do que está sendo consumido pelos aplicativos, tanto em seu hardware como no gasto com dados. O usuário pode especificar o quanto de memória e de dados cada aplicativo deve consumir em uma seção.
Câmera tudo-em-um dá fim a alguns dos apps mais famosos da Android Market
Dentre os novos recursos de câmera, o primeiro a ser apresentado foi um dos principais destaques do iOS 5, para iGadgets: agora você acionar a câmera na tela de bloqueio do aparelho.
Uma vez registrada a foto, o usuário agora tem uma série de opções de envio: e-mail, redes sociais, comunidades online, todas elas devidamente identificadas por ícones. Basta selecionar e enviar. A câmera também é capaz de identificar automaticamente o sorriso de uma pessoa, e registra a imagem de forma autônoma.
Mas o que mais chama a atenção são os novos recursos de edição nativa. Além dos filtroshipsters, parecidos com os oferecidos no Vignette (e equivalentes), a câmera ganhou também nativamente o recurso Panorama, já conhecido em outros dispositivos. Outro detalhe é a galeria de imagens, mais simples e rápida, e agora com mais espaço para exibir múltiplas fotos com um tamanho maior, tirando aquele vazio da aplicação em si.
Nos recursos de vídeo, alguns prometem resultados bem interessantes, como o Camera Dig, que pode simular efeitos de passagem rápida de tempo, ou gravação em câmera lenta.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução)A câmera ganhou um visual novo, além de mais agilidade e recursos como Panorama e efeitos hipsters(Foto: Reprodução)
Contatos e redes sociais, finalmente juntos
Na busca por uma forma mais interativa e atraente de mostrar seus contatos no telefone, os desenvolvedores criaram o People App. O aplicativo apresenta na guia de detalhes dos seus contatos todos os tipos de comunicação com o usuário (telefone, Twitter, LinkedIn, e-mail, Facebook, etc), e em guias separadas você pode ver os álbuns de fotos, updates nas redes sociais, e várias outras atividades do seu amigo pela internet. Algo parecido com o que o Windows Phone 7 faz em seus smartphones com o Facebook, mas mais aprimorado.
Neste mesmo recurso, você pode optar pelo acesso detalhado aos dados dos seus amigos de uma forma mais direta, separados em guias que, quando acionados, exibem tudo (como a timeline do Facebook e do Twitter) de forma simples e direta.
Não menos importante, o voicemail permite que você deixe mensagens de voz ou de vídeo na conta Google de seu contato, caso ele tenha uma.
Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)Android Ice Cream Sandwich (Foto: Reprodução/Engadget)
Recurso de NFC mostra potencialidades maiores que a de pagamentos móveis
As aplicações do NFC no Ice Cream Sandwich encerraram a noite com chave de outro. Caso o usuário queira compartilhar conteúdos como páginas de internet, ou o posicionamento de mapas, basta encostar as costas dos dois aparelhos e, em questão de segundos, o conteúdo é compartilhado. Não há mensagens de confirmação nem nada irritante no meio. O sistema funciona também para indicações de aplicativos no Android Market, interação com jogos e aplicativos de terceiros. Agora só depende dos desenvolvedores de apps.
O Galaxy Nexus é o primeiro smartphone a contar com o Ice Cream Sandwich. O kit de desenvolvimento para o novo sistema já está disponível para os desenvolvedores em www.android.com. Sabe-se que ele chega em novembro, mas quando vai chegar no seu smartphone já é outra história.
Fonte: Site TechTudo 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Morre Steve Jobs



Morre Steve Jobs, fundador da Apple

Criador da Apple impôs visão de simplicidade no mercado da tecnologia.
Da experiência com drogas às brigas, conheça a trajetória do empresário.

Steve Jobs (Foto: Moshe Brakha/AP)Steve Jobs, fundador da Apple, morre aos 56 anos nos Estados Unidos (Foto: Moshe Brakha/AP)

Morreu nesta quarta-feira (5) aos 56 anos o empresário Steven Paul Jobs, criador da Apple, maior empresa de capital aberto do mundo, do estúdio de animação Pixar e pai de produtos como o Macintosh, o iPad, o iPhone e o iPad.
Idolatrado pelos consumidores de seus produtos e por boa parte dos funcionários da empresa que fundou em uma garagem no Vale do Silício, na Califórnia, e ajudou a transformar na maior companhia de capital aberto do mundo em valor de mercado, Jobs foi um dos maiores defensores da popularização da tecnologia. Acreditava que computadores e gadgets deveriam ser fáceis o suficiente para ser operados por qualquer pessoa, como gostava de repetir em um de seus bordões prediletos, que era "simplesmente funciona" (em inglês, "it just works"). O impacto desta visão foi além de sua companhia e ajudou a puxar a evolução de produtos como o Windows, da Microsoft.
A luta de Jobs contra o câncer desde 2004 o deixou fisicamente debilitado nos anos de maior sucesso comercial da Apple, que escapou da falência no final da década de 90 para se transformar na maior empresa de tecnologia do planeta. Desde então, passou por um transplante de fígado e viu seu obituário publicado acidentalmente em veículos importantes como a Bloomberg.
Foi obrigado a lidar com a morte, que temia, como a maioria dos americanos de sua geração, desde os dias de outubro de 1962 que marcaram o ápice da crise dos mísseis cubanos. "Fiquei sem dormir por três ou quatro noites porque temia que se eu fosse dormir não iria acordar", contou, em 1995, ao museu de história oral do Instituto Smithsonian.
"Ninguém quer morrer", disse, posteriormente,em discurso a formandos da universidade de Stanford em junho de 2005, um feito curioso para um homem que jamais obteve um diploma universitário. "Mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. E, por outro lado, a morte é um destino do qual todos nós compartilhamos. Ninguém escapa. É a forma como deve ser, porque a morte é provavelmente a melhor invenção da vida. É o agente da vida. Limpa o velho para dar espaço ao novo."
Homem-zeitgeist
A melhor invenção da vida, nas palavras do zen-budista Jobs, deixa a indústria da tecnologia órfã de seu "homem-zeitgeist", ou seja, o empresário que talvez melhor tenha capturado a essência de seu tempo. Jobs apostou na música digital armazenada em memória flash quando o mercado ainda debatia se não seria mais interessante proteger os CDs para fugir da pirataria.
Home da Apple (Foto: Reprodução)Na página da Apple, foto em homenagem ao 
fundador (Foto: Reprodução)
Ele acreditou que era preciso gastar poder computacional para criar ambientes gráficos de fácil utilização enquanto as gigantes do setor ainda ensinavam usuários a editar o arquivo "AUTOEXEC.BAT" para configurar suas máquinas. Ele viu a oportunidade de criar smartphones para pessoas comuns ao mesmo tempo em que o foco das principais fabricantes era repetir o sucesso corporativo do BlackBerry.

Sob o comando de Jobs, a Apple dizia depender muito pouco de pesquisas de mercado. “Não dá para sair perguntando às pessoas qual é a próxima grande coisa que elas querem. Henry Ford disse que, se tivesse questionado seus clientes sobre o que queriam, a resposta seria um cavalo mais rápido", afirmou, em entrevista à revista "Fortune" em 2008. Em 2010, quando perguntado sobre quanto a Apple havia gasto com pesquisa com consumidores havia sido feito para a criação do iPad, Jobs respondeu que "não faz parte do trabalho do consumidor descobrir o que ele quer. Não gastamos um dólar com isso."
Nem sempre esta habilidade garantiu o sucesso da Apple, como na primeira versão da Apple TV, computador adaptado para trabalhar com central multimídia que não conseguiu um volume de vendas relevantes. Mas Jobs conseguia minimizar os fracassos: no caso da Apple TV, ele dizia que se tratava de um "hobby", um projeto pessoal que não fazia tanta diferença nos planos da empresa.
Perfeccionista e workaholic, Jobs gostava de controlar todos os pontos da produção da Apple, resistindo, inclusive, à decisão de terceirizar gradativamente a fabricação dos produtos da companhia para fabricantes chineses - plano proposto e executado pelo agora novo comandante da companhia, Tim Cook, e que se mostrou acertado.
Conhecido como um “microgerente”, nenhum produto da Apple chegava aos consumidores se não passasse pelo padrões Jobs de qualidade e de excentricidade. Isso incluía, segundo relatos, o número de parafusos existentes na parte inferior de um notebook e a curvatura das quinas de um monitor. No dia do anúncio de que Jobs estava deixando o comando da Apple, Vic Gundotra, criador do Google Plus, contou que recebeu uma ligação do presidente da Apple no domingo para pedir que fosse corrigida a cor de uma das letras do ícone do atalho do Google no iPhone.

Steve Jobs anunciou que deixará cargo de presidente da Apple (Foto: Reuters)Steve Jobs durante apresentação de produto
da Apple nos EUA (Foto: Reuters)
Na busca por produtos que fossem de encontro com seu padrão de qualidade pessoal, Jobs era criticado em duas frentes. Concorrentes e boa parte dos consumidores que tentavam fugir da chamado "campo de distorção da realidade" criado pela Apple reclamavam das diversas decisões que faziam dos produtos da companhia um "jardim fechado", incompatíveis com o resto do mundo e restritos a normas que iam além de restrições tecnológicas. Tecnicamente sempre foi possível instalar qualquer programa no iPhone, mas a Apple exige que o consumidor só tenha acesso aos programas aprovados pela companhia.
Internamente, entre alguns de seus funcionários, deixou a imagem de "tirano". Alan Deutschman, autor do livro “The second coming of Steve Jobs", afirma que, ao lado do "Steve bom", o mago das apresentações tão aguardadas pelo didatismo e capacidade de aglutinar o interesse do consumidor, também existia o “Steve mau”, um sujeito que gostava de gritar, humilhar e diminuir qualquer pessoa que lhe causasse algum tipo de desprazer.
Ao jornal “The Guardian”, um ex-funcionário que trabalhou na Apple por 17 anos comparou a convivência com Steve com à sensação de estar constantemente na frente de um lança-chamas. À revista “Wired”, o engenheiro Edward Eigerman afirmou: “mais do que qualquer outro lugar onde já trabalhei, há uma grande preocupação sobre demissão entre os funcionários da Apple”. A mesma publicação contou que o diretor-executivo não via problemas em estacionar sua Mercedes na área da empresa reservada aos deficientes físicos -- às vezes, ele ocupava até dois desses espaços.
Jobs também sempre precisou de um "nêmesis", um inimigo que ele satanizava e ridicularizava em público como contraponto de suas ações na Apple. O primeiro alvo foi a IBM, com quem disputou o mercado de computadores pessoais principalmente no início dos anos 80. Depois, a Microsoft, criadora do MS-DOS e do Windows. Mais recentemente, Jobs vinha mirando o Google, gigante das buscas na internet cujo presidente chegou a fazer parte do conselho de administração da Apple, e que investiu no mercado de sistemas para smartphones com o Android. Jobs ordenou que a Apple lutasse, mesmo que judicialmente, contra o programa que ele considerava um plágio do iOS, coração do iPhone e do iPad.
Steve Jobs (Foto: Kimberly White/Reuters)Steve Jobs (à direita), ao lado do antigo sócio
Steve Wozniak (Foto: Kimberly White/Reuters)
Do LSD ao Mac
O sucesso empresarial de Jobs é ainda um dos principais resquícios da transformação da contracultura dos anos 60 e 70 em mainstream nas décadas seguintes. A companhia que hoje briga para ser a maior do mundo foi fundada após Jobs ir à Índia em 1973 em busca do guru Neem Karoli Baba. O Maharaji morreu antes da chegada de Jobs, mas o americano dizia que havia encontrado a iluminação no LSD.
"Minhas experiências com LSD foram uma das duas ou três coisas mais importantes que fiz em minha vida", disse, em entrevista ao "New York Times". Depois, afirmou que seu rival, Bill Gates, seria "uma pessoa (com visão) mais ampla se tomasse ácido uma vez". O LSD foi a mesma droga que fascinara o inventor do mouse e precursor do ambiente gráfico, Douglas Englebart, cerca de dez anos antes de Jobs.
Coincidentemente foram o mouse e o ambiente gráfico os inventos que chamaram a atenção de Jobs na fatídica visita ao laboratório da Xerox em Palo Alto, em 1979. É uma das histórias mais contadas e recontadas do Vale do Silício, e as versões variam entre acusações de espionagem industrial à simples troca pela Apple de patentes que a Xerox não teria interesse em desenvolver por ações da companhia, que abriria seu capital no ano seguinte.
Fato é que a equipe de Jobs voltou da visita encantada com a metáfora do "desktop" utilizada pelo Xerox Alto. A integração entre ícones representando cada uma das funções do computador, acessadas por meio de uma seta comandada por um mouse, foi a base do Apple Lisa e, posteriormente, do Macintosh.
Steve Jobs (Foto: Robert Galbraith/Reuters)Steve Jobs, em uma das últimas aparições à frente
da Apple (Foto: Robert Galbraith/Reuters)
Com o "Mac", enfim, Jobs conseguiu colocar em prática a visão de que havia desenvolvido em parceria com o amigo e sócio Steve Wozniak, responsável pela criação das soluções técnicas que fizeram dos primeiros computadores da Apple máquinas que mudaram o cenário da computação "de garagem" que vinha se desenvolvendo nos Estados Unidos nos anos 70. Agora, 8 anos após a fundação da empresa, Jobs e "Woz" apresentavam um computador que não era feito para "o restante de nós".
"Algumas pessoas acreditam que precisamos colocar um IBM PC sobre cada escrivaninha para melhorarmos a produtividade. Não vai funcionar. As palavras mágicas especiais que você precisa aprender são coisas como 'barra Q-Z'. O manual para o WordStar, processador de texto mais popular, tem 400 páginas. Para escrever um livro, você precisa ler um livro - e um que parece um mistério complexo para a maioria das pessoas", afirmou Jobs em entrevista publicada pela Playboy americana de fevereiro de 1985.
Na frase, Jobs demostra que queria enfrentar a IBM, gigante nascida no início do século e que, depois de dominar o mercado de servidores corporativos, queria tomar também o setor de computadores pessoais. Para ele, as máquinas da IBM eram feitas "por engenheiros e para engenheiros", e havia a necessidade de criar algo para o "restante", ou, como diria a famosa campanha "Pense diferente" da Apple de 1997, um computador para "os loucos, os desajustados, os rebeldes (..), as peças redondas encaixadas em buracos quadrados".
Saída da própria empresaMas o sucesso do Mac - que viria posteriormente a impulsionar a adoção de ambientes gráficos até mesmo entre os computadores da IBM (com o Windows, criado pela Microsoft) - não evitou que Jobs acabasse demitido de sua própria companhia. As disputas internas entre equipes que queriam investir no mercado corporativo e as que apostavam apenas no consumidor fizeram com que John Sculley, vindo da Pepsi à convite do próprio Jobs, convencesse o conselho de administração de que era hora da empresa se livrar de seu fundador.
Durante a década em que esteve fora, Jobs fez dois investimentos que acabaram, de maneiras diferentes, alavancando o mito em torno de seu "toque de midas". No primeiro, pagou US$ 10 milhões pela problemática divisão de computação gráfica da LucasFilm, empresa de George Lucas responsável por franquias do cinema como Star Wars e Indiana Jones. A nova empresa foi batizada de Pixar, e após emplacar sucessos como “Toy story”, “Vida de inseto”, “Monstros S.A.” e “Procurando Nemo”, acabou sendo adquirida pela Disney por US$ 7,4 bilhões em 2006. No processo, Jobs se transformou no maior acionista individual da companhia de Mickey Mouse.
O outro investimento foi a semente não apenas do retorno de Jobs à Apple, mas teve relação direta com o surgimento da World Wide Web, invenção que impulsionou o crescimento da internet no mundo. Com a NeXT, Jobs desenvolveu computadores poderosos indicados para o uso educacional e desenvolvimento de programas. Um terminal NeXT foi usado por Tim Berners-Lee como o primeiro servidor de web do mundo, em 1991. Em dezembro de 2006, a Apple adquiriu a NeXT, manobra que serviu para incorporar tecnologias ao grupo e trazer Jobs de volta para o comando da companhia.
Steve Jobs (Foto: Kimberly White/Reuters)Steve Jobs com seu sucessor no comando da
Apple, Tim Cook (Foto: Kimberly White/Reuters)
O retorno de Jobs marca o início de uma era de crescimento para a Apple incomum na história do capitalismo americano. A sequência de sucessos - alguns atrelados a mudanças no paradigma de mercados importantes - inclui o MacBook, o tocador digital iPod, a loja virtual iTunes, o iPhone e o iPad. A maioria destes produtos veio de ideias impostas pelo próprio Jobs. À revista “Fortune”, em 2008, Jobs falou sobre sua tão aclamada criatividade - "sempre aliada ao trabalho duro", como ele mesmo enfatizou. "Não dá para sair perguntando às pessoas qual é a próxima grande coisa que elas querem. Henry Ford disse que, se tivesse questionado seus clientes sobre o que queriam, a resposta seria um cavalo mais rápido."
Nesta segunda passagem, Jobs reforçou ainda o legado de um empresário ímpar, que impunha uma visão holística na criação, desenvolvimento e venda de seus produtos, Do primeiro parafuso ao plástico que embalaria a caixa de cada aparelho, passando por custo, publicidade, estratégia de vendas.
Sigilo na vida pessoal
A mesma discrição que Jobs impunha na vida profissional - os lançamentos da Apple sempre foram tratados como segredo, aumentando a gerar um movimento de especulação que acabava servindo como publicidade gratuita - foi adotada em sua vida pessoal. Por isso, a luta do executivo contra o câncer no pâncreas foi tratada com muito sigilo, dando margem a uma infinidade de boatos.
Em 2004, Jobs fez tratamento após descobrir um tipo raro da doença. Durante o ano de 2008, Jobs foi aparecendo cada vez mais magro e os boatos aumentaram, até que ele anunciou em janeiro de 2009 seu afastamento da diretoria da empresa para cuidar da saúde. No início de 2011, novo afastamento, até que, em agosto, Jobs deixou de vez o comando da Apple. "Eu sempre afirmei que se chegasse o dia em que eu não fosse mais capaz de cumprir minhas obrigações e expectativas como CEO da Apple, eu seria o primeiro a informá-los disso. Infelizmente, este dia chegou", afirmou, em comunicado.
Steve Jobs apresenta o iPhone 4, em junho de 2010 (Foto: Robert Galbraith/Reuters)Steve Jobs apresenta o iPhone 4, em junho de
2010 (Foto: Robert Galbraith/Reuters)
A vida reservada fez, por exemplo, que Jobs não tivesse contato direto com sua família biológica. Nascido em 24 de fevereiro de 1955 em San Francisco, filho dos então estudantes universitários Abdulfattah John Jandali, imigrante sírio e seguidor do islamismo, e Joanne Simpson, foi entregue à adoção quando sua mãe viajou de Wisconsin até a Califórnia para dar à luz.
Segundo o pai biológico, os sogros não aprovavam que sua filha se casasse com um imigrante muçulmano. Lá, ele foi adotado por Justin e Clara Jobs, que moravam em Mountain View. Seus pais biológicos depois se casaram e tiveram uma filha, a escritora Mona Simpson, que só descobriu a existência do irmão depois de adulta.
Do pai adotivo, herdou a paixão de montar e desmontar objetos. Assim como Paul, Steve não chegou a ser um especialista em eletrônicos, mas ao aprender os conceitos básicos conseguiu se aproximar das pessoas certas no lugar certo. Vivendo no Vale do Silício, conheceu Steve Wozniak, gênio criador do primeiro computador da Apple. Trabalhou na Atari até decidir criar, com Woz, sua própria empresa.
Em mais uma conexão com a contracultura, Jobs teria tido um relacionamento de curta duração com a cantora folk Joan Baez, ex-namorada do ícone da música Bob Dylan, talvez o maior ídolo do empresário.
Casado com Laurene Powell desde 1991, Jobs deixa quatro filhos: Reed Paul, Erin Sienna, e Eve, nascidos de seu relacionamento com Laurene, e Lisa Brennan-Jobs, de um relacionamento anterior com a pintora Chrisann Brennan.
Fonte: G1 Portal Globo